QUANDO O CORREDOR DESFALECE… 

Por Dr. James Wilson 

Regra geral, quando se abordam as várias temáticas associadas à prática do nosso desporto, assume-se uma postura positiva de “coisa boa”, de superação, de melhoria e, muito mais raramente, o chamado “reverso da medalha”, ou seja, quando a corrida pode também significar algo perigoso. O Dr. James Wilson, colaborador da rubrica “Saúde e Corrida” apresenta-nos agora a questão do desfalecimento do corredor em pleno esforço, qual “aviso à navegação” sobre o que acontece ao corpo humano quando se atingem mesmo os chamados limites da sobrevivência. (M.M.)

Participei num Congresso de Medicina Desportiva, realizado na África do Sule prolonguei a minha estadia naquele país por mais duas semanas para poder assistir a uma das mais emblemáticas ultramaratonas do calendário internacional, a Comrades Marathon“.

Estávamos em 2007 e um corredor desfaleceu a pouco mais de uma centena de metros dos oitenta e tal quilómetros do acidentado percurso. Dois outros corredores que vinham perto dele, vendo que o atleta caiu, levantaram-no e, amparandoo, conseguiram que ele cortasse a linha final. Tudo isto num ambiente de grandes aplausos e incentivos por parte dos milhares de pessoas que estavam na área da meta. O problema dramático que quando o levaram para a meta, ele já estava morto, fulminado por um ataque cardíaco.

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A partir desse ano, proibiram-se os participantes de auxiliar qualquer corredor que desfaleça em plena prova!

Para mim, como profissional da área médica, o que me preocupa desde esse dia, é o que devo aconselhar aos organizadores e aos atletas, sobre o comportamento que devem realmente ter quando um corredor cai meio inanimado.

Devem ajudálo

Devem mostrar indiferença

E se o ajudarem, o que deve ser feito

OS MECANISMOS DO ATLETA 

Como eu costumo dizer, o organismo 31 humano é muito “manhoso” e “sabe” que lhe exigem suportar esforços que podem destruí-lo e, sendo assim, tem mecanismos para evitar que surjam situações de perigo eminente.

Vamos supor que propomos a uma determinada pessoa para correr até não poder mais. Ela inicia o esforço, mas, volvido algum tempo, o seu organismo envia uma série de “alertas” para que pare com esse enorme dispêndio de energia. Na realidade, o corpo humano não foi concebido para situações extremas de grande sofrimento. Durante a corrida, o cérebro trabalha para garantir que os níveis extremos de exaustão não aconteçam. Quando o atleta cai inanimado, isso significa que o sistema falhou!

Em termo clínicos, existem dois tipos de sinais que entram em lutaquando um individuo está em grande esforço físico

Um deles, é o chamado controlo de homesostase, ou seja, o processo de adaptação do organismo às cargas de esforço que lhe são impostas.

O outro, é a vertente de base psicológica que se encontra associada à motivação do praticante em querer atingir determinadas metas.

Entre estas duas grandes vertentes, há, como é compreensível, uma constante interação e será precisamente essa ligação que acaba por determinar o ritmo de corrida do atleta. Funciona, grosso modo, como se fosse uma balança imaginária. Por vezes, “puxa-se” mais pela balança da vertente psicológica e, aí, podem surgir problemas para os quais o praticante não dispõe de capacidade para suportar tamanho nível de exercício físico. Tentar atingir metas difíceis, sem dar a devida atenção aos limites impostos pela estrutura orgânica, traduz-se quase sempre por um elevado risco de colapso, de desfalecimento em plena competição ou no final desta

QUANDO A ATLETA COLAPSA… 

São múltiplas as causas que podem conduzir a estas situações limites, nomeadamente durante uma competição de fundo, mas podemos classificá-las em dois grandes grupos: vertentes clínicas e não clínicas

Nas clínicas, vamos englobar principalmente tudo o que está associado ao controlo cardíaco e, na primeira linha, os enfartes do miocárdio. Ainda podemos juntar problemas de desidratação grave, hiponatremia, hipoglicémia, etc. 

Quanto às não clínicas, as suas vertentes múltiplas, regra geral ocasionadas por desregularização da pressão arterial, sistema nervoso, sistema cardíaco, enfim, o que contribui para o mau funcionamento do transporte do sangue para o cérebro.

TRÊS IMAGENS TÍPICAS DO ATLETA EM DIFICULDADE 

Para que se saiba, sob o ponto de vista clínico existem três estados típicos reveladores de que o corredor se encontra próximo da exaustão. Quando o desportista está, digamos, a ficar inanimado, é uma última tentativa do organismo para colocar o corpo em posição mais favorável para que o fluxo sanguíneo chegue ao nível da cabeça e, consequentemente, ao cérebro

O que acontece é que, por várias razões, quer por elevada determinação psicológica quer por nítida falta de descernimento, ou por outras causas exteriores, como são as situações de ingestão de produtos dopantes, todos os avisos interiores do organismo para se parar o esforço são desprezados e o atleta continua, quase mecanicamente, a prosseguir o esforço, não obstante os avisos orgânicos para suspendê-lo. Para parar!

O Dr. Carlo Foster estudou há anos, minuciosamente, estas situações e escalou as atitudes do atleta em três graus.

No primeiro estágio, hoje clinicamente denominado por “Posição Foster 1, o atleta começa a correr com a cabeça mais em baixo e o tronco ligeiramente inclinado para a frente, o ritmo de passada passa a ser irregular

Na “Posição Foster 2”, assiste-se a maior inclinação do tronco, dando ideia de que o corredor vai quase cair, o que não acontece. Há registos de desportistas que conseguem percorrer muitos quilómetros desta maneira estranha

Na “Possição Foster 3, o corredor, já no chão, o persiste em progredir, gatinhando, ziguezagueando, e sempre com a cabeça mais em baixo, acabando por colapsar

O QUE SE DEVE FAZER

As situações que descrevemos têm normalmente como cenário corredores que enfrentam percursos superiores a 10 km, ou então, perante competições que se desenrolam sob condições atmosféricas difíceis.

Que atuação devem ter os outros atletas que assistem a situações próximas do colapso?

Pode parecer pouco desportivo, ou melhor, pouco de harmonia com as regras do “fair-play”, mas os especialistas dizem que o melhor é que nada façam, continuem as suas corridas e, ao passarem por algum elemento da assistência médica, informar que, x metros atrás, encontra-se alguém em grande dificuldade. O quadro ocorrido no final da “Comrades Marathon”, que relatei na abertura deste meu texto, foi exemplo para que se assuma esta atitude.

É certo que para o público, para os meios de informação, que assistem a uma situação de “não ajuda” por parte de outros corredores, o cenário pode parecer egoísta, ou melhor, de falta de sensibilidade por parte dos colegas corredores, mas o certo é que esta “não ajuda precipitadapode ser mais útil ao corredor que se encontra em desfalecimento do que fazer algo completamente errado

E quanto aos elementos da organização da prova

Para estes, também hoje se aconselha, e de forma bem explícita, que a melhor atitude a terem quando verificam que um corredor está a desfalecer é sempre avisar os elementos do socorro médico mais próximos e deixar-se de aventuras quanto a assistência para que não estão habilitados. Apenas proteger o atleta do Sol, deitálo de forma mais confortável e protegida e, eventualmente, dar-lhe pequenos goles de água.

Quanto aos incitamentos do público para que termine o esforço, aí, as dúvidas são muitas, pois perante um clínico quadro desfalecimento, os incentivos podem acabar por conduzir o interveniente até à morte

Lembram-se do final da primeira edição da Maratona Feminina nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, quando a suiça Andersen- Schiesse entrou no estádio a cambalear enquanto o público aplaudia? Pois a corredora helvética foi progredindo aos ziguezagues para aquela horrível e interminável volta à pista, recusando qualquer auxílio médico.

Foram 400 metros em 5 minutos e 44 segundos… Para os milhões, em todo o mundo, que presenciaram em direto o “feitoda atleta, isto pareceu a luta titânica da corredora em querer completar a prova, qual enorme força de vontade, de superação, mas a verdade é que nessa luta interna entre as coisas do corpo e as da mente, se assim podemos dizer, estava mesmo em jogo a própria vida da corredora

QUAIS AS TRANSFORMAÇÕES QUANDO SE DEIXA DE FUMAR

Um estudo da Universidade do Quebec, iniciado em 1998 e envolvendo 1000 fumadores de várias idades e sexos, que fumavam em média 10 a 20 cigarros por dia durante 5 anos, e que deixaram subitamente tal vício, revelou as seguintes grandes transformações:

20 MINUTOS DEPOIS… 

– A temperatura do corpo desce para parâmetros normais;

– A frequência dos batimentos cardíacos e a pressão sanguínea descem para o nível dos não fumadores.

24 HORAS… 

– O monóxico de carbono no sangue sofre uma redução;

– As veias e os órgãos recebem mais oxigénio e há uma sensação de melhoria física.

1 A 2 DIAS… 

O olfato e o paladar melhoram

– A respiração, de uma maneira geral, torna-se mais fácil;

– Começa a baixar o risco de enfarte do miocárdio.

3 A 9 MESES… 

A tosse típica do fumador baixa bastante

– A circulação do sangue estabiliza-se; O sistema imunitário fica mais forte

Respiração pulmonar muito mais eficiente

1 A 2 ANOS… 

O risco de enfarte do miocárdio baixa para 50%.

10 ANOS… 

– O risco de cancro pulmonar baixa para 50%.

15 ANOS… 

– Os riscos de enfarte e de AVC ficam semelhantes aos de indivíduos não fumadores.